Das namoradeiras nas janelas aos azulejos irregulares, a Casa Modesta acabou por escolher o nome mais honesto que poderia ter. É modesta, sim, feita de coisas simples e de recato, mas também cheia de detalhes e de história.
Antes de abrir como alojamento, numa localidade chamada Quatrim do Sul, em Olhão, e com vista para a ria Formosa, foi a casa de Joaquim Modesto de Brito, um “lobo do mar” que até barcos de madeira fazia, “desde que fossem pintados de amarelo e vermelho”. Quem o conta é Carlos Fernandes, o neto que brincou muitas vezes no jardim agora aberto a hóspedes, e que decidiu recuperar a casa depois de esta ficar desabitada. Para o ajudar, contou com a irmã, Vânia Brito Fernandes, que assinou o projeto de arquitetura e todo o mobiliário juntamente com a equipa do seu gabinete, PAr – projeto esse que acabou por ganhar o prémio internacional Architizer A+Awards, na categoria de hotéis e resorts, em 2017.
A casa e o antigo armazém onde o avô Modesto guardava as amêijoas que apanhava na ria foram transformados em edifícios paralelos por onde se espalham os nove quartos. A arquitetura é assumidamente inspirada na de Olhão: em forma de cubo, com as paredes muito brancas e terraços amplos que antigamente serviam para secar a fruta e o peixe e agora são perfeitos para desfrutar da vista a partir de uma espreguiçadeira.
Aqui e ali, a modéstia guarda surpresas engenhosas: as mesmas escadas usadas para aceder a um dos terraços servem para delimitar pequenos pátios com uma rede de baloiço, por exemplo, e dentro dos quartos é o armário, e uma porta deslizante, que dividem a zona de dormir da casa de banho.
Para além do cachorro Modesto, 2020 trouxe outras novidades: mobiliário de jardim feito em parceria com a Oficina 166, em corda marítima, e uma réplica das “cabanas de pescadores que existiam nas ilhas Deserta, Fuseta e Armona”. Coberta de colmo e colocada junto ao tanque/piscina, no verão serve de retiro de leitura, e no inverno funciona como sauna.
Suar, por enquanto, só se for em frente ao forno antigo, onde a avó ainda faz pão “quando lhe apetece”, ou a pedalar numa das bicicletas disponíveis – de preferência na ecovia que passa muito perto da casa e que permite andar pelo meio do sapal, em pleno Parque Natural da Ria Formosa.