Miguel Sobral queria uma casa na aldeia dos bisavós, na zona de Valeflor, Mêda, mas “não podia ser uma casa qualquer”. Tinha de ser “um refúgio para desligar e estar em contacto com a natureza” que se integrasse ao máximo na paisagem e “remetesse para um universo imaginário, quase irreal”. Engenheiro do ambiente “com um gosto particular pelas artes”, foi bater à porta do ateliê de arquitetura de João Mendes Ribeiro – autor de obras como o centro de arte contemporânea Arquipélago ou a Casa da Escrita – e apresentou-lhe o desafio, acompanhado de um convite para visitar o terreno. O arquiteto tinha quatro hectares à disposição – acabou por escolher ocupar apenas 25 metros quadrados, estrategicamente debaixo de um castanheiro “que marcava claramente o território”.
Batizada com o nome dessa árvore – e disponível também para estadias de curta duração – a Casa no Castanheiro é uma autêntica cabana moderna, “uma estrutura modular aparentemente simples e leve, feita em madeira e cortiça, e pensada para tirar o máximo partido da paisagem”.
“Ao contrário do que acontece nas cidades, espaço não faltava ali, mas o arquiteto optou pela situação oposta e constrangeu-se àquilo a que chama espaço mínimo de habitação”, conta o proprietário, continuando: “O mais engraçado é que esse espaço mínimo torna-se gigante. Embora seja muito condicionado, existe um envidraçado que permite uma comunicação constante com o exterior e, como as janelas não têm caixilharia, parece que não existe vidro e que toda a natureza está dentro da casa.”
“Apostando na tal ideia de espaço mínimo, pretendíamos que não houvesse sala”, completa João Mendes Ribeiro. “A sala é a copa do castanheiro, é o espaço exterior.”
A árvore propriamente dita serve de sombra e de abrigo, mas “a construção em si nem lhe toca” – foi desenhada para não interferir e houve mesmo cortes que tiveram de ser feitos no alçado já no decorrer do projeto, para não sacrificar nenhum ramo. “O castanheiro já é muito antigo, já viveu muito do que se passou ali, e agora está a proteger a casa”, diz Miguel Sobral, garantindo que quem visitar o local vai encontrar cenários completamente diferentes, consoante as estações do ano. “No outono, a árvore está carregada de ouriços com castanhas, as folhas passam de verde a amarelo e há um contraste incrível com o negro da casa. No inverno, as folhas caem e o sol tem liberdade total para entrar e aquecer o espaço. Já no verão, há muita sombra e as folhas são um estore natural.”
Lá dentro, os 25 metros quadrados foram aproveitados ao máximo e dão para um casal com uma criança, graças à mezzanine feita por cima da cama, à qual se acede por umas escadas. Do outro lado, em open space, fica a kitchenette equipada com fogão e frigorífico e, mais resguardado, o WC com chuveiro – chuveiro esse que acompanha a altura total da casa e conta com uma janela elevada. Em vez de televisão há salamandra, ar condicionado, wi-fi e um deck exterior. O pequeno-almoço também está incluído e é deixado num cesto à hora combinada.
A viver no Porto, Miguel Sobral herdou a ligação a Valeflor do pai, e antes disso dos bisavós, os proprietários originais do terreno onde agora se ergue, camuflada, a pequena casa. “É um terreno especial porque já sai fora da aldeia e tem uma vista privilegiada para a serra da Marofa”, diz o proprietário de 43 anos. “Por um lado é isoladíssimo, não há sequer iluminação pública na estrada de acesso, mas por outro temos imensas atrações aqui ao lado, como as aldeias históricas de Marialva e Trancoso, e as gravuras de Foz Côa, a cerca de 40 minutos. Falamos muito no Alentejo e no Minho, e a Beira Interior acaba por ficar um bocadinho esquecida.”
Com coordenadas muito gerais em vez de uma morada específica – “Valeflor, entre Trancoso e Mêda” –, reservar a cabana é o pretexto ideal para desbravar a região. “A aventura começa no momento da reserva”, conclui Miguel. “Recebe-se um código e é preciso ir à procura da casa.”