Vista da estrada de acesso, a aldeia parece uma pintura, com as casinhas e caminhos de pedra completamente integrados no vale. Uma pintura onde se pode entrar, dormir, comer e ir buscar água à fonte.
Nos anos 80 o cenário era muito diferente e a Cerdeira era mais uma aldeia do interior em risco de desaparecer. Kerstin Thomas e Bernard Langer deram com as ruínas durante uma caminhada pela serra da Lousã e apaixonaram-se por este “lugar encantado”, criado há cerca
de 300 anos por agricultores e entretanto deixado ao abandono. Da paixão nasceu um projeto de vida: encontrar os proprietários e recuperar as casas de xisto, uma a uma.
Em 2012, com a ajuda de um outro casal – Natália e José Serra –, nascia a Cerdeira Village, uma “unidade de turismo criativo” rebatizada entretanto como Cerdeira – Home for Creativity.
Ao todo são nove casas de xisto preparadas para estadias longas, com capacidade para duas a seis pessoas e o grande lema “tradição com conforto”. Todas foram recuperadas com técnicas locais e equipadas com cozinha, aquecimento central e salamandra.
Há jogos e livros em vez de televisão, e na bancada uma bilha de barro deixa o convite: “vamos à fonte?”. A dita fonte fica a uma curta caminhada a pé, junto à piscina natural da aldeia – uma espécie de tanque feito em pedra, como quase tudo.
Como não podia deixar de ser numa aldeia pequena, há um café central – neste caso chamado Café da Videira – onde são servidos os pequenos-almoços e também algumas refeições ligeiras. É a única zona da Cerdeira onde se pode ter acesso a wi-fi gratuito.No entanto, e como se lê na ardósia, só vale pedir a password “depois de 30 minutos de conversa”.
Kerstin Thomas é artista e por isso todo o projeto foi pensado para proporcionar experiências criativas e receber retiros. Para além de um calendário regular de workshops, os hóspedes podem inscrever-se em diferentes atividades no momento da reserva, atividades essas perfeitas para partilhar com crianças: oficina de brinquedos de madeira, compota em família, casinhas de xisto em miniatura ou ainda iniciação à roda de oleiro. Na aldeia há mesmo um forno de cozer cerâmica único em Portugal, feito sob orientação de um mestre japonês e que não deita fumo. Há também um compostor para os resíduos orgânicos e um sistema de reciclagem, sendo que cada hóspede é responsável por levar o seu lixo no momento da partida. Gestos essenciais para continuar a cuidar bem da aldeia. E não borrar a pintura.