Paulo Tuna, The Bladesmith
Paulo Tuna apresenta-se como “The Bladesmith” e largou tudo para fazer facas.
Texto: Diogo Lopes
Paulo Tuna faz facas e ainda se lembra do dia em que recebeu a primeira, tinha “uns sete anos”. Estava com o avô num café onde tinham acabado de almoçar “um dos melhores bitoques da cidade” e saiu-lhes um canivete muito básico, todo em plástico, numa rifa. “Toma, é para ti”, disse o avô ao neto, mal sabendo que este viria a construir algumas das facas mais procuradas do país – e não só.
Primeiro veio o curso de escultura. Paulo, “transmontano de gema”, trocou Vila Real pelas Caldas da Rainha por causa da Escola Superior de Arte e Design. Estávamos em 1995, e como ele era “das únicas pessoas que percebia de escultura em pedra e metais”, acabou por lá ficar como encarregado de trabalho. Foi mantendo a veia de escultor ativa e até expôs algumas obras, mas no horizonte sempre estiveram as lâminas. “Nunca saio de casa sem um canivete. Tenho uma coleção de 60 ou 70 modelos.”
Como tinha uma pequena forja no ateliê, Tuna costumava usá-la nos tempos livres para fazer umas lâminas rudimentares e treinar o manuseamento de novos tipos de aço. Um dia, a visita de um amigo trocou-lhe as voltas: “Ele chegou e disse que não queria comprar as minhas esculturas, mas sim as minhas facas. Fiz-lhe uma a muito custo. Nessa altura não tinha grandes máquinas, tinha de ser tudo à mão.”
Foi o princípio de uma história de sucesso. A primeira encomenda de um chef importante veio de Leonardo Pereira, que na altura trabalhava no Noma (Copenhaga, Dinamarca), o primeiro da lista The Worlds 50 Best Restaurants. “O chef René Redzepi precisava de umas facas de mesa especiais, inspiradas nas tradicionais puukko [um tipo de faca de caça nórdica], e pediu-me um protótipo”, conta. Inspirado “na simplicidade japonesa” e no “desenrascanço português”, Paulo enviou-lhe uma faca modelo e o negócio ficou fechado. O trabalho foi suficiente para pôr o artesão nas bocas do mundo.
As criações de Paulo Tuna são sempre únicas e “como é tudo feito à mão, há sempre um ou outro pormenor que sai diferente”. No início, escolhe-se o material da lâmina. Depois o lingote é levado à forja pela primeira vez, onde é aquecido antes de começar a ser martelado – “ao bater no aço estamos a purificá-lo, a tirar-lhe impurezas”. Depois de arrefecer, segue para a lixa. Neste momento, que Tuna descreve como “o roer do aço”, começa a esculpir-se a forma da lâmina. O ainda tosco objeto regressa à forja várias vezes, a diferentes temperaturas, para se trabalhar o metal. E ainda falta o cabo, que pode ser em diferentes tipos de madeiras. O ébano, por exemplo, é das mais bonitas mas também das mais complicadas de trabalhar porque “farta-se de destruir lixas”.
Quando a escolha da madeira fica feita, Paulo Tuna começa por cortar duas peças simétricas, que são prontamente lixadas até ficarem suaves. Logo a seguir, desenha-se o formato do cabo, que depois é definido com a ajuda de uma serra, antes de ser colado com epóxi, uma resina especial. Para garantir que tudo se mantém inteiro são adicionados uns pinos de latão, que são lixados também. A lâmina é depois afiada e o cabo tratado com óleo de camélia.
O produto final é sempre único e de qualidade superior . Que o digam chefs como Kiko Martins, Nuno Diniz ou Alexandre Silva, alguns dos muitos adeptos das facas de Paulo Tuna, “the bladesmith”.
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