Zouri

Nestes sapatos as solas são propositadamente transparentes e mostram o plástico apanhado nas praias.

Texto: Ana Dias Ferreira

As solas são tão interessantes como os ténis, e esse é o maior elogio que se pode fazer à Zouri. A marca de Adriana Mano e António Barros integra plástico apanhado nas praias no seu calçado, e é isso que se vê por baixo, graças à transparência da borracha: pedacinhos coloridos que já foram boias, redes e outros resíduos ligados à pesca.
Os dois sócios conheceram-se numa empresa de calçado em Braga e juntaram-se para canalizar a paixão comum pela natureza através dos sapatos. Inicialmente, a ideia era construir uma sandália semelhante às japonesas (de onde vem o nome Zouri) inteiramente de plástico reaproveitado. Ironia: num mundo inundado deste derivado do petróleo, o material não era o mais indicado. “É pesado, é quebrável e tem uma abrasão que faz com que se desgaste com facilidade”, explica Adriana.

A solução, encontrada com o apoio da Universidade do Minho e de uma fábrica em Felgueiras, foi então triturar o plástico e incorporá-lo nas solas de borracha natural, normalmente translúcida. Que plástico? O que é recolhido nas praias portuguesas, por ser local, e porque se trata de um plástico “muito degradado e sujo, que não é aceite nas empresas de reciclagem e normalmente vai parar aos aterros”, quando não fica simplesmente no mar.
Logo nas primeiras sandálias da Zouri, lançadas em 2018 depois de uma campanha de crowdfunding, foi utilizada parte da tonelada e meia de lixo apanhado numa grande ação de limpeza promovida pela Câmara Municipal de Esposende em toda a costa do concelho. A quantidade de plástico usada em cada par depende do tamanho do sapato, mas “a média é equivalente a seis garrafas”.
Produzidos artesanalmente na zona de Guimarães, os ténis, sandálias e chinelos da marca usam ainda outros materiais amigos do ambiente como a cortiça, a juta, o algodão orgânico e, mais surpreendente, o piñatex, uma imitação de pele feita a partir de folhas de ananás (e o único material que tem de vir de fora, neste caso de Barcelona).
Em nome da transparência (não só da sola), cada par vendido traz uma ficha com os materiais usados, os nomes dos envolvidos na produção e a data em que o plástico foi recolhido. “No fundo queremos criar uma tendência em que as pessoas se preocupem com o que estão a usar”, conclui Adriana. “Como na alimentação.”

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