A moagem foi inaugurada há mais de 200 anos, mas o pó que se vê não é da passagem do tempo – é das mós em funcionamento. “Chamamos pó porque farinha é o que pomos no saco”, brinca José Mário Nunes. É o pó dos cereais que chegam todos os dias, a granel ou em grandes sacas, à Moagem Carlos Valente.
Em 1810, as mós ficavam umas portas ao lado e funcionavam com a força da água, numa altura em que “havia 15 azenhas em Vale de Ílhavo”. “Com a necessidade de abastecer Aveiro, os cursos de água foram desviados e a moagem passou a funcionar a gasóleo e depois a eletricidade”, conta José Mário. Os diferentes tipos de energia atravessaram dois séculos, mas em 2011 a corrente foi desligada e a moagem fechou. Carlos Valente, batizado com o mesmo nome do tio-avô, e também moleiro, tinha nessa altura 89 anos.
“Fechou porque era preciso fazer uma série de mudanças, mesmo a nível de infraestruturas”, diz José Mário. A moagem esteve quatro anos parada, até a quinta geração entrar em campo.
Helena Resende, de 36 anos, é neta de Carlos Valente e, juntamente com José Mário, de 35, compõe o improvável casal de moleiros que relançou o negócio em 2015. (…) Como num pequeno negócio, os dois fazem um pouco de tudo, com a ajuda de três funcionários. Às vezes ficam com os cabelos brancos, mas não é do stress, é mesmo da matéria-prima. “Quem ao moinho vai, enfarinhado sai”, dizem, entre risos.