Há quem tenha dito que esta parte da costa alentejana faz lembrar o Douro, de dedo apontado para as colinas e com as pernas a acusarem a subida. “Tivemos sorte, não há muitos sítios no Alentejo assim tão altos, com esta vista”, diz Glenn, olhos azuis, t-shirt e calções curtos – a anos-luz dos fatos que usava quando trabalhava em publicidade. A mulher, Berny Serrão, traz mais uma coordenada geográfica à conversa. Moçambicana e apaixonada por design de interiores, fez “uma pequena África” naquilo a que resolveu chamar de Paraíso Escondido. “Até temos um cão-leão”, brinca, referindo-se a Zulu, o portentoso leão da Rodésia que aparece assim que ouve um assobio.
A placa que está na casa-mãe refere-se a ele, mais uma vez em tom de brincadeira. “Todos os hóspedes têm de ser aprovados pelo cão”, lê-se – um sinal do ambiente familiar e descontraído que se respira em toda a propriedade. Mistura de turismo rural com guesthouse, no Paraíso Escondido há também dois bungalows erguidos com estacas no meio das árvores. Duas casas de madeira com ar colonial – não falta a cama de dossel e uma ventoinha metálica no tecto – e um par de cadeirões brancos no alpendre para apreciar a tranquilidade, ouvir o vento nas árvores e ver as estrelas do famoso céu alentejano.
A ampliação terminou no final de 2017 e trouxe outras novidades. Os cinco quartos iniciais inaugurados em 2014 passaram a dez, o que inclui novas suítes, com conceitos diferentes. Duas são viradas para o lago e estão pensadas para estadias mais longas, as outras duas refletem o percurso dos proprietários antes de resolverem largar tudo e mudarem-se para o Alentejo, em 2008. Uma chama-se Jasmim e tem ecos de quando viveram em Singapura, o que inclui as almofadas orientais e a enorme banheira junto à cama. A outra foi batizada de Marula, numa referência a um “fruto que os elefantes gostam de comer” e é, como o nome indica, a suíte africana. “No fundo é uma casinha independente”, diz Berny enquanto passeia pelo quarto luminoso, decorado com almofadas étnicas, um enorme cesto na parede e a fotografia de uma zebra na savana.
A par do número de camas, a casa que recebe os hóspedes também cresceu e tem agora uma sala de refeições com capacidade para 20 pessoas e um bar chamado Maguduza – mais uma referência africana, neste caso ao nome pelo qual o pai de Berny era conhecido em Moçambique. É atrás do balcão que Glenn prepara o aperitivo da casa – uma espécie de Porto Tónico aromatizado com zimbro – e é nas mesas de madeira, decoradas com rebentos frescos de eucalipto, que se servem os pequenos-almoços com vários produtos da região, dos ovos mexidos biológicos às compotas da Alma da Nossa Gente, uma marca de Odemira, a apenas 20 quilómetros.
O conceito “farm to table” (da quinta para a mesa) mantém-se aos jantares, servidos mediante reserva prévia. “Tentamos que tudo seja o mais sustentável possível e respeitar a natureza”, diz Berny, que escolheu lareiras ecológicas para as suítes e desenvolveu um sistema de aproveitamento da água para regar a pequena horta da propriedade, junto à piscina. Uma das razões para querer vir para o Alentejo foi mesmo essa: estar em contacto com a natureza, criar um projeto seu de raiz e, já agora, fugir do clima cinzento de Londres, onde o casal também viveu durante sete anos. “O Alentejo faz-me lembrar as paisagens de África e também tem praias perto, como Moçambique”, diz a proprietária. A mais próxima do Paraíso Escondido é a da Zambujeira do Mar, mas Berny tem uma lista de favoritas que partilha com os hóspedes que querem explorar a região – “a” lista, como lhe chama, e onde estão também indicados os melhores restaurantes da costa alentejana.
Quanto ao nome, foi a primeira sensação que Berny teve quando visitou a propriedade de oito hectares, na altura feita apenas de eucaliptos e com o lago ao centro. “Parecia mesmo um Paraíso Escondido”, diz, quase num sussurro. Mal sabia que ao lado ficavam duas localidades chamadas Barranco do Inferno e Purgatório, apenas que tinha encontrado o seu oásis.