Quinta Nova

A data inscrita na fachada da adega leva-nos a 1764, e na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo há mais de 250 anos de história para descobrir. Detida pela família Amorim desde 1999, a propriedade de 120 hectares – 83 de vinha – inclui mesmo um museu onde se regressa no tempo para mostrar, através de um espólio com mais de 500 peças, como era feito o vinho do Porto antigamente, na primeira região demarcada do mundo.
Na casa principal do século XVIII ficam seis dos 11 quartos, remodelados em 2020 pela arquiteta Ana Vale e a própria Luísa Amorim, e com vista privilegiada para o Alto Douro Vinhateiro, Património Mundial da Unesco. Com a renovação, que veio modernizar o ambiente cuidado de solar vínico, o enoturismo entrou para a rede Relais & Châteaux e é mesmo o único com esse selo em toda a região.à
A capela de Nossa Senhora do Carmo que dá nome à propriedade fica em frente à receção, mas através de um trilho pedestre pelas vinhas é possível descobrir, mesmo junto ao rio, a capela original, construída por barqueiros e pescadores. É difícil imaginar, olhando para as águas tão serenas que acompanham o vale, mas antes das barragens, o Douro era um rio de rápidos e de “difícil trato”, nas palavras de Miguel Torga recordadas no museu. “A capela servia para rezar e pedir proteção para a odisseia que era levar os barcos rabelos até ao Porto”, conta Eduardo Ferreira, um dos responsáveis pelas visitas guiadas que acontecem diariamente. É também Eduardo quem diz: “O Douro está a mudar e a Quinta Nova é um exemplo disso”, referindo-se à aposta no chamado vinho de mesa, que aqui representa já 90% da produção. No final das visitas é possível provar várias referências, dos brancos premiados aos tintos reserva, sempre feitos com castas da região, ou marcar uma experiência ainda mais original, chamada “Enólogo por um dia”. Numa bancada de mármore equipada para o efeito, e com vista para as barricas de carvalho, a ideia é que os participantes experimentem um pouco do dia a dia do enólogo Jorge Alves e façam o seu próprio vinho a partir da mistura – o termo técnico é blending – de três lotes selecionados. No final, não falta o engarrafamento, o arrolhamento e até a criação de um rótulo original.
Resta falar na belíssima piscina de xisto, ela própria encaixada num socalco e por isso bastante reservada, e no restaurante Terraçu’s, onde o chef André Carvalho é o responsável pela carta de fine dining que tira partido de pratos durienses e de ingredientes da região, incluindo os cuscos de Trás-os-Montes, servidos com cogumelos e trufa. A harmonização com os vinhos da quinta é opcional, mas devia ser obrigatória.