Manuel e Graça Correia tinham planos bem definidos para a reforma: depois de uma vida a viver em Barcelos, o professor de mecânica e a técnica do Museu de Olaria passariam esses tempos no Porto ou em Vila do Conde. Mas o filho, Tiago, e a nora, Filipa, ambos arquitetos, trocaram-lhes as voltas. “Sempre quis construir uma casa de raiz onde os meus pais pudessem passar a reforma”, explica Tiago Correia, que com a mulher, Filipa Guerreiro, criou o Ateliê da Bouça. “A família da Filipa é de Paredes de Coura, em 2008 encontrámos este terreno a um bom preço e decidimos juntar as duas famílias. Para quem tem filhos, como nós, acaba por ser mais prático estarmos perto uns dos outros aos fins de semana.”
O projeto acabou por ser para duas casas irmãs, uma para os pais, outra para os tios, Adélio e Odete Correia: as casas da Bouça das Cardosas. Até que se tornasse realidade, contudo, o clã passou por alguns percalços e contratempos. Desde logo, a dúvida se seria possível construir naquela área, um antigo terreno agrícola a sete quilómetros do centro de Paredes de Coura, com cerca de 2600 m2, que se converteu numa bouça cheia de carvalhos e eucaliptos. Depois veio a parte burocrática com a autarquia e, mais tarde, uma crise económica que dificultou o financiamento do projeto. Apesar de todas as dificuldades, desistir nunca foi opção.
A obra da casa de Graça e Manuel durou quatro anos, de 2008 a 2012, e os constrangimentos orçamentais acabaram por se transformar em oportunidades, tanto para procurar outro tipo de materiais (alguns muito improváveis numa empreitada deste género), como para arregaçar as mangas e “carpinteirar”. Por exemplo: o revestimento da casa era suposto ser em tijolo burro, mas acabou por ser em betão leve, um material de revestimento acústico usado nas autoestradas; os rodapés foram pensados para ser em madeira, mas são em mármore vindo diretamente de uma pedreira e colocado à mão, tipo puzzle; já a lareira foi construída com um tipo de tijolo feito com as sobras de betão. Por fim, um erro na execução das dimensões de uma parede de betão na sala permitiu à escultora Inês Correia, irmã de Tiago, pôr as mãos na massa, dando asas à imaginação – e tornando a casa um projeto de família a 360°.